Deprê


Boa tarde hoje é oficialmente o quinto dia desde que descobri que sou soropositivo e sinceramente eu ainda não consigo associar essa palavra à minha pessoa. Confesso que no terceiro dia quando a ficha começa a cair você passa a ter pensamentos negativos de todos os tipos. Você passa a olhar para as pessoas na rua e fica imaginando qual a sorologia da pessoa, e vira um jogo patético de suposições e lamentações. A verdade é que o HIV não tem cara, e que agora não importa mais, pois não corro mais o risco de ser infectado e sim o contrário.
Ainda fico me martirizando e pensando com seria bom viver sem o vírus e ter uma vida livre inteira pela frente e mesmo que tenha lido uma penca de depoimentos de pessoas que afirmam que isso é possível, algo dentro de mim insiste em me mostrar que não e me puxar para baixo.

Enquanto não consigo consulta com a infectologista para fazer os exames de carga viral e saber a minha real situação do meu organismo sinto-me frágil e com a sensação que posso adoecer a qualquer momento. Comprei um arsenal de vitaminas: Complexo B, Polivitamínico, Selênio, Betacaroteno, Magnésio, Sulfato Ferroso e Óleo de alho, e tomo todos religiosamente. Sinto que estou fazendo alguma coisa pra ajudar e o efeito placebo parece me trazer alguma tranquilidade.

Não sei como chama essa fase do processo, só sei que você passa a valorizar mais a sua vida de antes da descoberta. As coisas começaram a perder a graça e acho que você mergulha numa espécie de depressão. As coisas que costumava fazer perdem a graça e nenhum lugar está bom. Uma inquietação estranha acompanhada de um vazio desconfortável. Dormir é sempre uma boa opção.

No quarto dia, 31 de outubro, Halloween, decidi sair, sem muita vontade, mas queria mesmo saber como era estar numa festa depois de tudo. Em menos de dez minutos eu já estava entediado. Simples, porque festa combina com alegria e a alegria está de férias por enquanto. Sei que tudo que escrevo vem carregado com uma pesada carga emocional negativa, mas acho que faz parte desse período de luto e da raiva que carrego dentro de mim. Nunca fui de fazer drama e ter autopiedade, mas agora descobri que tudo tem hora certa pra fazer e sentir. Tem hora que não dá pra fingir que tudo está bem.

Amanhã será 2 de novembro, finados, dias dos mortos. E quando penso sobre a morte vejo que é o ponto final definitivo na história de uma pessoa, e que nada mais pode ser feito. E eu ainda estou vivo. Ainda posso viver e lutar. Preciso descobrir como fazer pra sair desse lodo emocional e superar.

Como foi o seu processo de descoberta e aceitação? Compartilhe comigo.

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