
Bem, hoje dia 27 de outubro de 2015, terça feira, 12h10 aproximadamente, meu mundo imaculado acabou. Sinto-me anestesiado e meu pensamento está divagando. Acabo de pegar o meu segundo exame confirmando que sou HIV positivo. A sensação que tenho é que vou morrer logo e que todos os meus familiares e amigos vão descobrir que sou soropositivo, e eu não posso viver com isso, mesmo se estivesse morto.
Hoje também é meu aniversário, fiz 32 anos, e como a maioria das pessoas, eu tenho uma quantidade razoável de amigos e colegas. Todos desejando as felicitações de paz, amor e saúde, que ironia.
Parece um teste de resistência psicológica, pois por fora tenho que sorrir e fingir que tudo está bem, mas por dentro estou tentando juntar os cacos. Essa sensação de medo e fracasso por ter falhado, por todos os erros e deslizes que cometi vem à tona de uma vez, como uma bomba.
A partir de agora eu sei que minha vida vai mudar e terei que aprender a ser outro alguém. Alguém que eu nem sei quem vai ser. Alguém que não tenho orgulho e que sinto desprezo e nojo, e tudo o que eu quero nesse momento é dormir. Talvez pra ver se consigo acordar desse pesadelo.
Sempre fui uma pessoa otimista e nesse momento seria eu o ombro amigo tentando dizer palavras de encorajamento, mas agora o jogo virou. Não sei o que fazer. Sinto-me incapaz e com medo. Medo de qualquer coisa que possa acabar com o resto que ficou. Não me sinto a vontade de falar sobre isso com ninguém e acho que não estou preparado para ouvir nada.
Estou tendo flashes de memória, do passado, especificamente de pessoas que passaram por minha vida e não consigo vislumbrar um futuro. Acho que estou em choque ainda.
Fico lembrando-me da cara da recepcionista do laboratório me entregando o resultado do exame, tentando esconder o ar de compaixão. Naquele momento eu percebi que não precisava abrir aquele lacre para saber o resultado, senti um calafrio horrível e minhas mãos e pés formigaram. Peguei aquele papel amaldiçoado e saí sem olhar pra trás. Estava petrificado, mas abri ali mesmo, dentro do carro, tremendo de ansiedade e ainda com um último ar de esperança, confesso. Só me lembro de ler reagente para HIV. Minha vista embaçou e perdi os sentidos por alguns instantes. Precisei de um momento para recuperar o fôlego e a consciência.
Não sei como consegui dirigir de volta. Estava aterrorizado. Sinto uma agonia estrangulando o meu estômago. Sinto meu corpo fraco como se fosse desfalecer a qualquer momento. Minha cabeça dói e não tive coragem de tomar um simples analgésico. Aliás, não sei o que fazer ainda. Minha capacidade de raciocínio está seriamente debilitada nesse momento e estou tomando por uma tremenda insegurança.
Um tempo depois a ficha começa a cair e você começa a ponderar as consequências. A respiração fica curta e o medo com a vontade de sumir toma conta do pensamento. Não sei como cada um reagiu a triste notícia, mas até aqui não consegui derramar uma lágrima sequer. Sinto-me seco e vazio.
E o drama continua e fica pior quando você tem um alguém. Meu companheiro está do outro lado do atlântico sem saber de nada. Como vou lidar com isso? O que eu devo fazer? Juro que não sei. Sempre fui a favor de um diálogo aberto e honesto, mas como dizer isso pelo telefone? – Ei, acabei de descobrir que sou soropositivo e tem grandes chances de você ser também. Chupa essa manga –
Fico lembrando-me da cara da recepcionista do laboratório me entregando o resultado do exame, tentando esconder o ar de compaixão. Naquele momento eu percebi que não precisava abrir aquele lacre para saber o resultado, senti um calafrio horrível e minhas mãos e pés formigaram. Peguei aquele papel amaldiçoado e saí sem olhar pra trás. Estava petrificado, mas abri ali mesmo, dentro do carro, tremendo de ansiedade e ainda com um último ar de esperança, confesso. Só me lembro de ler reagente para HIV. Minha vista embaçou e perdi os sentidos por alguns instantes. Precisei de um momento para recuperar o fôlego e a consciência.
Não sei como consegui dirigir de volta. Estava aterrorizado. Sinto uma agonia estrangulando o meu estômago. Sinto meu corpo fraco como se fosse desfalecer a qualquer momento. Minha cabeça dói e não tive coragem de tomar um simples analgésico. Aliás, não sei o que fazer ainda. Minha capacidade de raciocínio está seriamente debilitada nesse momento e estou tomando por uma tremenda insegurança.
Um tempo depois a ficha começa a cair e você começa a ponderar as consequências. A respiração fica curta e o medo com a vontade de sumir toma conta do pensamento. Não sei como cada um reagiu a triste notícia, mas até aqui não consegui derramar uma lágrima sequer. Sinto-me seco e vazio.
E o drama continua e fica pior quando você tem um alguém. Meu companheiro está do outro lado do atlântico sem saber de nada. Como vou lidar com isso? O que eu devo fazer? Juro que não sei. Sempre fui a favor de um diálogo aberto e honesto, mas como dizer isso pelo telefone? – Ei, acabei de descobrir que sou soropositivo e tem grandes chances de você ser também. Chupa essa manga –
Como saber se eu o infectei ou se fui infectado? A essa altura do campeonato não faz a menor diferença, pois a merda já está feita. Em alguns casos a ignorância é uma benção, mas quando se trata de uma doença que precisa ser tratada o quanto antes o que eu devo fazer? E se ele me odiar e me culpar? Qual vai ser a reação dele? E se, ele surtar e eu não estou lá pra consolar? No caso, como eu fiz o exame primeiro, a manga sobrou pra mim.
Já são 20h36, a chuva cai lá fora, continuo me sentindo estranho e espero que essa sensação passe logo. Amanhã é um novo dia e vou descobrir o que devo fazer a partir de agora. Se você já passou por isso deixa seu comentário. P.
Já são 20h36, a chuva cai lá fora, continuo me sentindo estranho e espero que essa sensação passe logo. Amanhã é um novo dia e vou descobrir o que devo fazer a partir de agora. Se você já passou por isso deixa seu comentário. P.
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